sábado, 2 de outubro de 2010

Os bons exemplos (I)

Talvez tenha passado despercebido por alguns o pronunciamento do governo americano sobre as exportações do país.  O NEI (National Export Initiative – Iniciativa Nacional de Exportação) foi detalhado no início de Setembro.  O objetivo é ambicioso:  dobrar as vendas internacionais dos EUA no período de 5 anos.  É uma das formas encontradas pelo governo para ajudar o país a sair da crise em que se meteu.  Interessante observar a atenção dadas às exportações.   Vamos observar o que diz o documento: “Exportar é bom para os negócios americanos, bom para os trabalhadores americanos e bom para os empregos americanos”.   Isso vindo de um país onde o mercado interno tem um peso inegável na economia.  E o texto prossegue:  “As exportações precisam crescer de US$ 1.57 trilhão em 2009 para US$ 3.14 trilhões em 2015.  Isso somente irá acontecer se as corporações americanas, fazendeiros e pequenas e médias empresas – os motores do crescimento econômico – receberem o encorajamento e suporte que necessitam para prospectar novos mercados para seus produtos e serviços”.    Notem alguns pontos interessantes:  existe uma meta clara e um prazo definido; os responsáveis são citados e é mencionado o que deve ser feito. A expressão ‘motores do crescimento econômico’ coloca a atividade exportadora no centro da discussão.´
Sabemos que a balança comercial norte americana é tradicionalmente deficitária.  Muitos não entendem o porquê disso.  Por que o país compra muito mais do que vende?  Sim.  E também porque vende menos do que compra?  Também está correto.  E tem mais uma terceira possibilidade que se combina às duas anteriores: há mais gente lá fora vendendo muito e disputando clientes com os americanos.   Tudo isso junto revela um comportamento curioso.  Em 1948, logo após a Segunda Guerra, os EUA tinham impressionantes 22% das exportações mundiais em suas mãos. No início da década de 60 esse total já tinha recuado para 15%.  Por quase duas décadas – entre os 70 e final dos 90 – o país conseguiu se segurar em torno de 12% das vendas mundiais.  Atualmente os produtos americanos representam somente 8% das exportações globais.  A questão do déficit comercial também não é nova.  A última vez que o país registrou um superávit na sua balança comercial foi em 1975.
De volta ao NEI, outro ponto muito interessante é onde crescer.  O documento diz: “Avançar sobre mercados de rápido crescimento é crucial para colocar a economia norte americana de volta a uma base sólida”.  Naturalmente estamos falando dos novos emergentes como Brasil, China, Índia, Rússia, México, África do Sul, Turquia e muitos outros.  Eu diria que o Brasil tem espaço privilegiado nessa lista.  Imaginem isso:  além do já conhecido ataque chinês, a infantaria americana desembarcando com força total.  Empresas brasileiras que se cuidem.
Um aspecto interessante que transparece no NEI é certa mea culpa.  Não há problema em reconhecer que nem tudo está perfeito e ajustes devem ser feitos com urgência.  Vejam esse trecho: “95% dos consumidores mundiais estão fora dos EUA; nós os ignoramos por nossa conta e risco.  Não podemos retornar a uma economia que é direcionada pelo endividamento e pelo consumo.  Para manter um crescimento robusto o mundo deverá depender menos do consumo norte americano – e nós devemos vender mais ao resto do mundo.”
É para pensar. E agir.  O Brasil parece ignorar o que vem se desenhando ao longo dos últimos anos.  O que acontece com os EUA – e está mais do que claro no NEI – deveria servir de alerta ao nosso país.  Volto no mês que vem com mais tópicos interessantes retirados dessa iniciativa.

Um comentário:

  1. Olá Sérgio, me chamo Felipe e estive presente (e fazendo perguntas) em sua palestra ministrada na ESAMC-Campinas aos alunos do curso de RI. Ao ler o seu texto sobre o NEI e ler a matéria na íntegra, logo acima, fiquei a indagar quando nossos políticos irão perceber que iniciativas bem tomadas, claras e conscientes DEVEM ser definidas em todos os tipos de políticas (seja ela cambial, econômica, social, ambiental etc...).

    Os projetos apresentados pelos nossos candidatos (e pela candidata eleita) me parecem mais discurso para "inglês ver" e engambelar a grande massa votante desse país.

    Enquanto o país caminha a passos largos em rumo ao colapso infra-estrutural o mote da campanha é a questão sobre aborto, se candidato X é ou não critão e por aí vai.

    Não considero o povo americano muito melhor que o nosso, mas considero sim, as pessoas que comandam o país, os que definem e agem, muito mais preparados que os nossos.

    Nossos governantes estão mais amadores brincando com ouro.

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