segunda-feira, 28 de março de 2011

Qual o caminho?


As águas de março fecham o verão e também atrapalham o escoamento da safra de soja no porto de Paranaguá.  Desde o início de março as longas filas de caminhões se estendem por ciclópicos 30 km! Como nas enchentes de São Paulo, a tal fila volta todos os anos.  E nossa competitividade fica pelos buracos do asfalto e ao longo das curvas da estrada de Santos.  Péssima piada.  Segundo dados da revista Exame (Ed. 987) a soja nacional custa 274 dólares ao passo que a americana fica por 311.  Para chegar até o navio exportadores brasileiros gastam 120 dólares.  Os americanos somente 30. Daí pra frente todo mundo sabe o que acontece. Chegamos mais caros ao mercado.  Esse é só um exemplo de um único produto. Não haveria espaço nessa revista para listar e apresentar todos. O mais incrível é que mesmo com essa situação absurda o país consegue se manter em termos de balança comercial.  Fico pensando se a situação mundial não fosse tão favorável às commodities.  Como sairíamos dessa?  Pela porta dos fundos e de cabeça baixa.
Mas olhemos para o futuro.  Para fazer esse exercício é aconselhável checar o presente e examinar o que se pretende fazer.   Já está na rua a nova versão do relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial.  O Brasil caiu duas posições no ranking dos países mais competitivos do mundo (de 56 para 58). De todas as notas baixas as que realmente jogam contra o país são educação, infraestrura e ambiente tributário.  Tripé básico para qualquer país que almeje um lugar de destaque no mundo.  Para quem duvida e acha que está tudo bem é melhor dar uma olhada na Ásia. O que era a região há 40 anos e o que é hoje.  O segredo do sucesso passa fundamentalmente por esses três tópicos.
Outro relatório publicado anualmente é o Doing Business, preparado pelo Banco Mundial.  O que é analisado nesse caso é o ambiente de negócios de cada país a partir de diversos critérios.  De um total de 183 países o Brasil ficou com a posição 127 em 2011.  Ano passado estávamos no 124° lugar. Outro retrocesso.
De posse desses dois resultados e de olho na fila de caminhões carregados de soja mergulhei no Plano CNT de Transporte e Logística 2011, preparado pela Confederação nacional dos Transportes.  Seria leviano dizer que não existe uma fotografia da situação do país. O documento mostra a situação atual e aponta diversos caminhos para corrigir a distorcida matriz de transporte nacional.  O custo apresentado pelo documento é de R$ 400 bilhões a serem usados em todos os modais e regiões do país.  Desse total quase 50% se destinariam ao setor rodoviário.  A ferrovia ficaria com uns 33%, os aeroportos com 2.5% e portos com meros 1.3%. Não parece ser o que o país precisa, não é mesmo?  Como não há um detalhamento cronológico do uso desses recursos (não há como usar tanto dinheiro de uma só vez, é claro), investiguei o Plano Nacional de Logística e Transporte publicado pela Secretaria de Política Nacional de Transportes.  Na revisão de Agosto de 2010 os números indicam outra coisa. As estradas ficariam com 30% dos investimentos ao passo que a ferrovia ocuparia 47% dos investimentos. Os portos ficariam com 12% e os aeroportos com 5%.  Esse tipo de falta de alinhamento nas informações é preocupante. Demonstra desorganização e falta de preparo para planejar e executar.  E isso não é de hoje. Elio Gaspari relatou há poucos dias que uma compra de 80 locomotivas feita de modo apressado há trinta anos.  48 delas ainda estão encaixotadas e abandonadas num galpão em Campinas e irão a leilão como sucata valendo R$ 0.30 o quilo.  Essa compra custou U$ 500 milhões à época.  Cai o pano.