As águas de março fecham o verão e também atrapalham o escoamento da safra de soja no porto de Paranaguá. Desde o início de março as longas filas de caminhões se estendem por ciclópicos 30 km ! Como nas enchentes de São Paulo, a tal fila volta todos os anos. E nossa competitividade fica pelos buracos do asfalto e ao longo das curvas da estrada de Santos. Péssima piada. Segundo dados da revista Exame (Ed. 987) a soja nacional custa 274 dólares ao passo que a americana fica por 311. Para chegar até o navio exportadores brasileiros gastam 120 dólares. Os americanos somente 30. Daí pra frente todo mundo sabe o que acontece. Chegamos mais caros ao mercado. Esse é só um exemplo de um único produto. Não haveria espaço nessa revista para listar e apresentar todos. O mais incrível é que mesmo com essa situação absurda o país consegue se manter em termos de balança comercial. Fico pensando se a situação mundial não fosse tão favorável às commodities. Como sairíamos dessa? Pela porta dos fundos e de cabeça baixa.
Mas olhemos para o futuro. Para fazer esse exercício é aconselhável checar o presente e examinar o que se pretende fazer. Já está na rua a nova versão do relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial. O Brasil caiu duas posições no ranking dos países mais competitivos do mundo (de 56 para 58). De todas as notas baixas as que realmente jogam contra o país são educação, infraestrura e ambiente tributário. Tripé básico para qualquer país que almeje um lugar de destaque no mundo. Para quem duvida e acha que está tudo bem é melhor dar uma olhada na Ásia. O que era a região há 40 anos e o que é hoje. O segredo do sucesso passa fundamentalmente por esses três tópicos.
Outro relatório publicado anualmente é o Doing Business, preparado pelo Banco Mundial. O que é analisado nesse caso é o ambiente de negócios de cada país a partir de diversos critérios. De um total de 183 países o Brasil ficou com a posição 127 em 2011. Ano passado estávamos no 124° lugar. Outro retrocesso.
De posse desses dois resultados e de olho na fila de caminhões carregados de soja mergulhei no Plano CNT de Transporte e Logística 2011, preparado pela Confederação nacional dos Transportes. Seria leviano dizer que não existe uma fotografia da situação do país. O documento mostra a situação atual e aponta diversos caminhos para corrigir a distorcida matriz de transporte nacional. O custo apresentado pelo documento é de R$ 400 bilhões a serem usados em todos os modais e regiões do país. Desse total quase 50% se destinariam ao setor rodoviário. A ferrovia ficaria com uns 33%, os aeroportos com 2.5% e portos com meros 1.3%. Não parece ser o que o país precisa, não é mesmo? Como não há um detalhamento cronológico do uso desses recursos (não há como usar tanto dinheiro de uma só vez, é claro), investiguei o Plano Nacional de Logística e Transporte publicado pela Secretaria de Política Nacional de Transportes. Na revisão de Agosto de 2010 os números indicam outra coisa. As estradas ficariam com 30% dos investimentos ao passo que a ferrovia ocuparia 47% dos investimentos. Os portos ficariam com 12% e os aeroportos com 5%. Esse tipo de falta de alinhamento nas informações é preocupante. Demonstra desorganização e falta de preparo para planejar e executar. E isso não é de hoje. Elio Gaspari relatou há poucos dias que uma compra de 80 locomotivas feita de modo apressado há trinta anos. 48 delas ainda estão encaixotadas e abandonadas num galpão em Campinas e irão a leilão como sucata valendo R$ 0.30 o quilo. Essa compra custou U$ 500 milhões à época. Cai o pano.
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