Os bons exemplos (I)
Talvez tenha passado despercebido por alguns o pronunciamento do governo americano sobre as exportações do país. O NEI (National Export Initiative – Iniciativa Nacional de Exportação) foi detalhado no início de Setembro. O objetivo é ambicioso: dobrar as vendas internacionais dos EUA no período de 5 anos. É uma das formas encontradas pelo governo para ajudar o país a sair da crise em que se meteu. Interessante observar a atenção dadas às exportações. Vamos observar o que diz o documento: “Exportar é bom para os negócios americanos, bom para os trabalhadores americanos e bom para os empregos americanos”. Isso vindo de um país onde o mercado interno tem um peso inegável na economia. E o texto prossegue: “As exportações precisam crescer de US$ 1.57 trilhão em 2009 para US$ 3.14 trilhões em 2015. Isso somente irá acontecer se as corporações americanas, fazendeiros e pequenas e médias empresas – os motores do crescimento econômico – receberem o encorajamento e suporte que necessitam para prospectar novos mercados para seus produtos e serviços”. Notem alguns pontos interessantes: existe uma meta clara e um prazo definido; os responsáveis são citados e é mencionado o que deve ser feito. A expressão ‘motores do crescimento econômico’ coloca a atividade exportadora no centro da discussão.´
Sabemos que a balança comercial norte americana é tradicionalmente deficitária. Muitos não entendem o porquê disso. Por que o país compra muito mais do que vende? Sim. E também porque vende menos do que compra? Também está correto. E tem mais uma terceira possibilidade que se combina às duas anteriores: há mais gente lá fora vendendo muito e disputando clientes com os americanos. Tudo isso junto revela um comportamento curioso. Em 1948, logo após a Segunda Guerra, os EUA tinham impressionantes 22% das exportações mundiais em suas mãos. No início da década de 60 esse total já tinha recuado para 15%. Por quase duas décadas – entre os 70 e final dos 90 – o país conseguiu se segurar em torno de 12% das vendas mundiais. Atualmente os produtos americanos representam somente 8% das exportações globais. A questão do déficit comercial também não é nova. A última vez que o país registrou um superávit na sua balança comercial foi em 1975.
De volta ao NEI, outro ponto muito interessante é onde crescer. O documento diz: “Avançar sobre mercados de rápido crescimento é crucial para colocar a economia norte americana de volta a uma base sólida”. Naturalmente estamos falando dos novos emergentes como Brasil, China, Índia, Rússia, México, África do Sul, Turquia e muitos outros. Eu diria que o Brasil tem espaço privilegiado nessa lista. Imaginem isso: além do já conhecido ataque chinês, a infantaria americana desembarcando com força total. Empresas brasileiras que se cuidem.
Um aspecto interessante que transparece no NEI é certa mea culpa. Não há problema em reconhecer que nem tudo está perfeito e ajustes devem ser feitos com urgência. Vejam esse trecho: “95% dos consumidores mundiais estão fora dos EUA; nós os ignoramos por nossa conta e risco. Não podemos retornar a uma economia que é direcionada pelo endividamento e pelo consumo. Para manter um crescimento robusto o mundo deverá depender menos do consumo norte americano – e nós devemos vender mais ao resto do mundo.”
É para pensar. E agir. O Brasil parece ignorar o que vem se desenhando ao longo dos últimos anos. O que acontece com os EUA – e está mais do que claro no NEI – deveria servir de alerta ao nosso país. Volto no mês que vem com mais tópicos interessantes retirados dessa iniciativa.